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ELA
ela
Chovia estrondosamente. Raios brancos cortavam o negro do céu e caiam na terra como latões em queda. O vento chacoalhava a janela e algumas gotas respingavam em cima da escrivaninha por entre as frestas. Lilian apertou os olhos antes de acordar entremeio a dois trovões que louvavam a natureza. Coçou seu olho esquerdo, respirou profundamente até que sua mente encontrasse com o presente. Deu um salto, foi até a janela e terminou de fecha-la em um estrondo misturado com o cair da chuva.
Lentamente foi até a cozinha, parou na porta, olhou a bagunça e suspirou. Jogado perto da pia estava o corpo de um homem, que parecia tão em paz, com seu peito nu mostrando o corte transvasado no seu corpo e o sangue já coagulado como duas asas de anjos.
Era uma obra prima.
Ela virou o pescoço analisando os detalhes, aproximou-se dele e molhou o dedo na poça grudenta, ajeitando seu desenho. Mas faltava alguma coisa, algo para dar um ar mais alegre a ele. Resmungou baixinho, foi até a gaveta e pegou uma faca, com cuidado para não pisar nas asas, aproximou do rosto e com delicadeza de uma fada, cortou os cantos da boca, traduzindo um sorriso.
Agora sim. Estava perfeito.
Ela encheu um copo de água e bebeu. Bateu levemente com os dedos sobre a pia, olhou para o cadáver e disse:
-Adeus.
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