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O PIANO
O PIANO
Naquela manhã de sol o jovem casal parou em frente a casa velha, rindo. Ele a abraçou e beijou sua cabeça.
-Quer mesmo entrar, querida?
-Claro. – sorriu ela - nosso roteiro não estaria completo se não conhecêssemos o piano. – eles riram.
-Detesto essas histórias e mitos. Vamos. – eles subiram as escadas que antigamente deveriam ter sido obras da perfeição. Empurraram a porta e entraram no grande salão, caminharam por toda casa, rindo e brincando, sentindo o prazer que só o amor proporciona nessas ocasiões. E foi assim, explorando, que chegaram a grande porta, talvez a mais alta e imponente de todas, juntos empurraram e entraram. Na sala alta não havia nada além de um piano, já envelhecido pelo tempo. Caminharam lentamente até ele. Ela exultava de prazer, rindo.
-Levanta a tampa dele amor – pedia ela, segurando em seu braço.
-Huuum, e se eu não resistir a tentação do piano? – falou ele rindo.
-Deixa de besteira. – ela abriu o piano, passou a mão de leve sobre ele e apertou algumas teclas. – ainda está afinado. Incrível!
Ele mantinha certa distância, olhava pelo canto dos olhos enquanto seus sentidos mantinham-se alertas. – Querida, vamos, não deveríamos estar aqui. Não gosto do ar dessa casa.
-Claro que não amor, é ar de casa velha. Além do mais – disse ela, dedilhando as teclas e descendo a tampa. – o que você acha disso – sentou-se sobre a tampa e abriu as pernas, mordendo os lábios.
Ele sorriu, baixou a guarda e foi até ela, beijando-a copiosamente, enquanto suas mãos exploravam seus corpos. Abriu a blusa e liberou os seios palpitantes e passou a explorar com a língua. Estavam em delírio quando no silencio de seus gemidos, lá, longe, uma porta bateu. Assustados pararam para ouvir.
-Deve ter sido o vento, não pare amor. – ele voltou a beijá-la. Mas de repente todas as portas começaram a bater. – O que é isso?! – ela colocou as mãos nos ouvidos.
-Não vamos esperar para ver, vamos embora! – pegou-a pela mão e saiu correndo. Sentiu certa leveza, e chegou até a porta do outro lado com a respiração acelerada – você está bem? – silêncio. - Querida? – virou-se e então uma onda de desespero tomou conta dele. Ela não estava lá. Não havia ninguém além dele dentro da sala, sendo acompanhado com o bater das portas.
-Querida! Querida? Onde você está? – chamou diversas vezes, sem obter respostas. Apenas o silêncio. Tentou sair mas todas as portas estavam trancadas. – Abre essa droga de porta! Querida, isso não é brincadeira que se faça! Abra! – gritava ele, enquanto esmurrava a porta e tentava abri-la com o corpo. E assim com havia começado, parou aquele barulho ensurdecedor e um silêncio tomou conta da casa. Então, quando colocou a cabeça entre as mãos, ele ouviu. Eram apenas alguns dedilhares sobre as teclas que se intensificava a medida que as batidas de seu coração aumentava a velocidade.
-Querida? É você? – levantou-se e caminhou até o piano. Não havia ninguém, ninguém tocava! Era o piano ecoando aquela música pelo silêncio da casa. E então, como as mais irresistíveis das tentações o piano o seduziu. Ele sentou-se com olhar perdido e sem nunca antes ter tocado uma música se quer, passou a dedilhar uma sinfonia de Bethoven, sem parar. Uma após a outra.
O som doce e singelo que ecoava pela casa vazia fazia com que a solidão fosse se tornando cada vez mais real. Mais palpável. Mais dolorida e infinita. Ele dedilhava concertos nunca antes ouvidos pelo homem, e que jamais poderiam ser tocados novamente.
A cada dedilhar uma lágrima escorria de seus olhos, descia por sua face e pingava sobre as teclas amarelas do velho piano. A música passava por seus ouvidos, entravam em sua mente e desciam pelo coração.
Cada toque, cada sensação descrita pelo som que saia daquele velho piano entrava na mais profunda dor que sentia. Seus dedos começaram a calejar, mas ele não parava. Cada nota nova fazia com que ele quisesse mais e mais permanecer ali, sentado no banco velho e empoeirado, tocando.
Começou a chorar ainda mais, os dias passavam, seus dedos perdiam a sensibilidade, saíram das pontas a pele, ele encolhia, enrugava e o sangue misturava ao som do piano, transformando a melodia em um som ainda mais profundo e sedutor.
E ele não conseguia parar de tocar.
você é o máximo...sempre...beijo..
ResponderExcluirValeu Marcoos! Saudades ...
ExcluirE assim seguimos, ainda que doam os dedos e em carne viva já estejam, continuamos tocando, seduzidos... Sem conseguir parar.
ResponderExcluirDefiniu perfeitamente a nossa rotina de continuar cavando o poço...
Beijo.
Sim, Katie. É exatamente essa rotina que nos induz a cavar o poço.
ExcluirObgda por esta leitura!
Nossa! Que incrível este conto, encantador e dramático ao mesmo tempo. Adoro esses contos curtinhos, mas, que deixam uma marca notável.
ResponderExcluirParabéns e continue assim.
Sucesso!
http://sessentaenovecontossecretos.blogspot.com
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