OBRA DE ARTE

Assassinato, sangue, dor


Acordou sentindo a cabeça girar. Quanto havia bebido na noite passada? Tentou levantar a mão para massagear a cabeça e não conseguia. Tentou abrir os olhos, mas não dava. Tudo escuro, tudo no silêncio. Tentou organizar a mente para lembrar onde estava, entretanto a última coisa que vinha era o barulho do carro. Na verdade de um carro, pois não tinha o carro. Ficou ali, sentindo o silêncio e buscando lembranças enquanto as horas passavam, quando passos distantes ecoaram em um corredor. Tentou chamar, mas o único som que saiu foi apenas do seu coração palpitante. Será que ele ainda batia ou era sua imaginação?
Abriu a boca e uma dor aguda passou pelo seu corpo. Sua boca não abria! O que estava acontecendo? Forçou mais um pouco e nada, somente aquela dor. Ainda tentou abrir e dessa vez além da dor sentiu o gosto adocicado de seu sangue O+. Alguma coisa acontecera a ela. Um desespero tomou conta, começou a se balançar naquilo que parecia uma cama, por que seus braços não a obedeciam?! E suas pernas, ela tentava mexer com elas, mas nada. Não respondiam!
Os passos ficaram mais próximos e ouvia-se o barulho de um assobio. Uma porta se abriu e o assobiar sessou. Sentiu quando a pessoa chegou perto dela.
-Já acordada querida?- sussurrou ele, com hálito de menta. – que bom. Está quase pronta. Creio que agora você já pode tirar isso de seus olhos e assistir-me trabalhando. Sei que vai gostar. – deu uma pequena risada alegre. – está ficando uma obra prima!
Ele debruçou-se sobre ela e suavemente retirou a venda de seus olhos assustados. Ela tentou falar com ele, mas sentiu o sangue escorrendo para dentro de sua garganta.
-Shii... – fez ele, levantando-se e arrumando a inclinação da cama. Apontou para o alto e ela ergueu a cabeça. A cena que via era grotesca, seu corpo nu esticado em uma maca tinha os braços cortados na altura dos cotovelos, e daí para cima repartidos em dois. Suas pernas mal passavam de tocos ensanguentados. O desespero não era apenas visível, mas podia sentir emanando dela algo mais além daquela dor de ver seu corpo, antes perfeito, naquelas condições. – Lindo não é? – sorriu ele, mexendo em uma bacia. O corpo dela tremia, não conseguia se quer raciocinar aquilo tudo. Digerir o que via e acreditar que não era um pesadelo. Sua boca buscava som, mas nada saia, estava costurada, grudada em algo que parecia ser um de seus seios. Lágrimas escorreram dos olhos sem pálpebras. Nem isso ela tinha de consolo, não poderia fechar seus olhos. Ele voltou, com um pé, o seu pé.
-Não vai doer. – Aplicou algo numa das partes dos seus quatro pedaços de braço e começou a costurar, ponto após ponto. Ligando o tecido do pé ao tecido do braço.
Ela, em sua mente, implorava para que ele a matasse. Por que aquilo estava acontecendo? O que era aquilo? Não controlava mais suas lágrimas. Não poderia. O desespero era maior que tudo no mundo. Quando terminou, ele passou o braço ensanguentado sobre a testa, retirando gotas de suor. Com um bisturi, abriu-a de sua vagina até o umbigo e ali um espaço, onde enfiou as duas mãos da garota, aplumando-as como dois galhos de árvores em flor. Costurou em volta. Deu dois paços para trás e admirou a sua obra prima.
Olhou por entre as pernas dela e decidido foi até o seio que ainda restava, aplicou algo e começou a cortar. Ela tentava chacoalhar o corpo. Impedir que aquilo acontecesse. Seus olhos assombrados sabiam que era seu fim. Ele aplicou um liquido gelado sobre a parte exposta onde antes era seu seio e quando finalmente terminou, foi até o orifício anal e começou a costurar ali aquele seio perfeito, redondo, com o bico eriçado pela estranha sensação de pavor.
-Finalmente. Minha obra prima está pronta. – gritou, alegre.
E ficou ele, com aquele sorriso contente nos lábios, olhar deliciado. Observando a assombrosa beleza de seu trabalho. Pegou sua câmera, tirou algumas fotos, assobiando aquela canção irritante e respirando menta.
Ela não soube quanto tempo ainda ficou viva. Somente se lembrava da dor e principalmente do desespero de ver seu corpo ganhando uma forma tão bizarramente perfeita.
                                                                                                  MirianKardoso

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2 comentários:

  1. nossa! apesar de ser forte, eu gostei!

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    1. Que bom que gostou Jô! Obrigada pela visita, volte sempre e leia mais! o/

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