CONTOS
INSANIDADE
OUTROS
O CHEFE
Sentados a mesa do
restaurante, eufóricas, envolvidas em conversas alegres e superficiais, as
pessoas esperavam ansiosamente pela comida divina que o Chefe fazia.
Chegavam os garçons com os
pedido e as pessoas sentadas, ignorantes, comiam sem parar. Não era apenas a
fome, era o desejo descomunal que o sabor daquela comida tinha.
Sublime.
O sabor divino era tão
peculiar e inebriante que mesmo aqueles de paladares adormecidos não poderiam
deixar de admitir, aquela comida tinha um sabor fora do comum.
As pessoas colocavam um
pedaço na boca e lentamente degustavam, sentindo o poder saboroso enquanto seus
olhos fechavam e elas viajavam para fora de si mesmas.
Aquilo subia pela garganta
de cada um, obrigando-os a pedir mais e mais.
Os cozinheiros gritavam uns
para os outros, acelerando a preparação dos alimentos. Todo dia era a mesma
correria, a mesma vontade dos fregueses de comerem a deliciosa comida. Tão boa
era que causava problema para os outros restaurantes da avenida.
De tanta fama, um dos
críticos mais renomados fora chamado para avaliar o sabor e qualificar no
jornal mais circulado. Marcado o dia e a hora, prepararam-se todos para servir
a melhor comida.
Ele entrou em silêncio.
Sentou-se a uma mesa
reservada, pediu a primeira coisa do cardápio. Foi servido. Olhou ao belo prato
preparado especialmente para ele. Pegou o garfo e fez o primeiro corte, levou
aos lábios e começou a comer. Seu rosto nada expressava, nada demonstrava. Ele
apenas comia.
Depois de provado quatro dos
principais pratos da noite, ele limpou os lábios no guardanapo e levantou o
dedo, chamando o Chefe.
-Tudo esplêndido. – disse
ele, com voz firme. –será que poderia dar uma pista do ingrediente secreto?
O Chefe sorriu.
-Creio que isso é a única
coisa que não será possível. Há algo mais que possamos servi-lo?
-Isso é tudo. Obrigado.
-Eu que agradeço. – Disse o
Chefe polidamente. Estava quase virando as costas para ir à cozinha quando
retornou e disse: - caso queira ir ao toalete, fique a vontade.
No outro dia a nota da
avaliação foi tão divina quanto a comida. E a grande questão levantada pelo crítico
foi: ‘Qual seria o tão secreto ingrediente do Chefe?’.
O Chefe sorriu diante
daquela última pergunta e virou-se para seus empregados:
-Abastecimento vindo do
número 4. Recolham e levem para a mesa do bolo.
Na sala comprida haviam
vinte mesas, dez de cada lado da sala, vindo da parede um cano grosso pendia
sobre bacias. Os homens que ali trabalhavam usavam máscaras, luvas e respiravam
por um caninho.
O do número quatro ouviu
quando deram a descarga lá em cima, desceu o líquido molhado e fétido dentro da
bacia e ele levou ao Chefe, que ainda sorrindo dobrou o jornal, colocou do lado
da mesa e retirou a quantidade certa de dentro da bacia e misturou na massa de
seu bolo.
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