Cinzas Internas



Mais ou menos no meio da tarde, o céu escureceu, núvens escuras preencheram o azul  e apagaram os restos da luz que ainda existia dentro da casa. Era inacreditável como o mundo podia refletir minha dor, frustrações e humor. Era eu?


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Cala a boca e só me escuta!... O que eu faço agora? Hein? É isso que significo a você? Essa merda??... Não quero saber! Eu.. não sei mais o que fazer, Dalba! Como você pode... Não existe desculpas para isso! Não, continue em silêncio, seu merda. Todas as coisas que sacrifiquei, por todos os dias que passei ao seu lado, é assim que você retribui? Fala alguma coisa, Dalba! Agora você não tem nada para dizer, é? Fala! O, Dalba, como pode, como? Não fale mesmo, continue assim, em silêncio, seu viado ridículo! Só fica aí, debaixo dessa merda de terra, que é onde você merece estar.
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Vai, vai, vai! Mais rápido! Não para! PO.o.or favor, não para! Não para! Que delícia. Huuuuun.
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Jandira, sua puta! Fala, Roberto, que cê qué? Traz aí aquele negócio, traz. Peraí, já levo. Não é isso Jandira, você não presta pra nada?
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As vezes eu paro e percebo o quanto minha vida é uma merda. Tenho que levantar cedo, trabalhar o dia inteiro, aguentar chefe, suportar o calor do escritório, voltar pra casa, que, na falta de uma palavra melhor, significa solidão enclausurável. É a essência da minha angústia mesmo. Tenho desejos rompentes de explodir tudo e ir embora. Mas pra onde? Eu sei que ao chegar lá, me sentirei do mesmo jeito. Olho para parede cinza do meu quarto, suspiro, can u believe? we can fly, sei que o problema é comigo, mas o que posso fazer?
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Ô Dona Ana! Como vai a senhora? Vou bem, Mari, e você? Como dá, né Dona Ana. A vida é meio assim. Não dá pra reclamar, né Mari? As vezes até que ela é boa. Boa só de vez em quando, Dona Ana., quase nem percebo esses momentos. É, pensando bem, é isso mesmo, Mari. E como vai essa sua dor nas costas, Dona Ana? Vai de mal a pior, Mari. Como a vida é difícil, dona Ana. É, Mari.
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As minhas memórias são tão indecentes, flap flap flap, que saudade de quando eu podia fazer isso sem parecer muito estranho, flap flap flap.
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Olha, senhor, não reclame muito não, afinal você tem a vida que escolheu. Deus que escolheu pra mim, doutor. Não senhor, foram suas escolhas que te trouxeram até aqui. Deus, no máximo, te permitiu escolher.


Mirian Kardoso

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