Os Dois Irmãos


Era uma vez uma mulher, grávida de gêmeos, que morava com seu marido em um reino de paz onde todos se respeitavam e amavam. Quando chegou a hora da mãe dar a luz, a parteira previra que iriam ser esperado grandes feitos de ambos meninos, pois gêmeos significavam dobrada sabedoria.
A mãe, feliz, aceitou de bom grado as predições e amava ternamente as duas crianças. Entretanto a paz que reinava na casa abalou-se quando noticiaram a morte de seu pai que era militante. Desesperados choraram e enlutaram pelo homem durante 11 meses, no décimo segundo mês, como era costume do povo, fizeram em memória do morto um grande banquete, convidando todos da aldeia próxima.
As crianças eram os centros da atenção, e todos se encantavam por vê-las tão lindas e perfeitas. Entretanto durante o banquete uma visita inesperada surpreendeu a todos, era um velho encapuzado, alto e sombrio, que montado em um monstro negro com manchas cinzas enormes, de duas cabeças, ricocheteou medo por todos os lados. No mesmo instante os convidados o reconheceram como o velho bruxo que morava em uma caverna mais ao fundo na floresta, e assustados afastaram-se das crianças.
Naquela hora o olhar do viajante recaiu sobre elas e disse. “Lindos meninos. Não teria um copo de chá quente para aquecer um pobre velho?” A tremula mulher mais que depressa lhe trouxe na melhor taça, quando a figura sombria pegou na taça, sussurrou “Estranho não convidarem-me para a festa in memória.” Ele sorriu friamente. “Mas sou de imensa bondade. Em troca de amaldiçoar sua geração, pedirei educadamente que me ceda um de seus meninos.” Caminhou até eles e tocou com dedos longos e finos sobre o rosto das crianças inocentes. “Este” decidiu-se ele. “Este é diferente...” A mãe tentou explicar que não o havia convidado por não saber de sua existência, mas nada modificou sua decisão. O velho encapuzado segurou a criança que agora chorava e retirou-se, deixando para trás uma casa aflita e ainda mais machucada.
Passaram-se anos, o filho que lhe restara agora já moço e muito bonito, entretanto tinha um caráter por vezes estranho, maltratava pequenos animais para vê-los sofrer, mas era repreendido pela bondade materna. Nunca soubera que tinha outro irmão, a mãe decidira por esconder-lhe, pois assim atenuava seu sofrimento.
Mas o destino conjeturava outros planos, e aconteceu que enquanto a derradeira árvore saldava sua derradeira folha, anunciou-se o desaparecimento da princesa, filha do rei Claudius, o Bondoso. O rei em seu desespero prometeu: “O cavaleiro que resgatar minha filha terá a chave para seu outro reino, mais a mão da princesa, e se sentará ao meu lado no banquete real”.
Na época muitos bravos e corajosos homens foram atrás, mas eram vencidos pelos obstáculos que encontravam no caminho, obstáculos estes que foram postados por um grande feiticeiro.
O moço, que agora se tornava homem, ao ouvir a história sobre a recompensa do rei deixou a mãe e partiu a procura da princesa, o seu coração dilatava diante da promessa de riqueza e do poder que alcançaria. Quando chegou a um caminho deserto da floresta, encontrou um casebre pobre e miserável, resolvido pedir pouso, parou seu cavalo e bateu palmas. De dentro do casebre apareceu um casal de velhinhos que o recolheu e carinhosamente serviu-lhe comida e deu-lhe sua própria cama para que pernoitasse. O jovem esperto perguntou-lhes sobre o caminho e suas dificuldades para descobrir o paradeiro da princesa, e eles lhe deram um pergaminho que dizia para ser entregue aos que pedissem pouso.
No pergaminho, em letras prateadas e corridas, lia-se: “Aqueles que se aventurarem deverão recolher do seio carinhoso e materno a chave para o portão do castelo.” O enigma era estranho, mas o jovem inteligente depois de muito pensar sabia o que deveria fazer. Pela madrugada acordou antes dos velhos e sorrateiramente apunhalou o coração de ambos. De dentro do coração retirou uma pequena chave que guardou próxima ao peito. Assim como fizera a sangue frio aquele assassinato, não hesitou em realizar novos feitos maléficos, que qualquer homem com uma réstia de humanidade no coração não faria.
Em cada empreitada sua ambição aumentava, seu desejo pela metade do reino crescia, e onde passava devastava, machucava e agoniava, tirava toda felicidade. Até que finalmente, na última curva ao norte do caminho, ao alvorecer da primeira primavera, encontrou o castelo que diziam esconder a princesa.
Era ricamente adornado com o mais puro ouro.
Com a chave abriu os portões e adentrou, era mais lindo por dentro, e não demorou a encontrar a princesa brincando com algumas crianças no jardim. Ao vê-lo, o sorriso da linda moça desapareceu e ela correu para o interior do castelo. Confiante que ganharia seu prêmio, o jovem cavaleiro se precipitou atrás da jovem, quando então se deparou com sua imagem parada ao pé de uma escada. Assustado perguntou “Você sou eu?” A sua imagem cruzou as mãos e disse “Jamais seria. Seu coração é negro.” O cavaleiro retirou a espada do bojo “Veremos que coração continuará a bater.” O jovem, entretanto, apenas olhava aquela copia ambiciosa a sua frente, e sentia muita pena de seu destino. “Antes de matar-me, permita que eu cure todas as doenças e destruições que você fez para chegar até aqui. Pois me recuso a relar em um fio de seu cabelo.” O cavaleiro assustou-se “Será você capaz de dar vida aos mortos?” Riu-se desdenhoso. Mas o rapaz apenas sorriu. “Veremos.”
Juntos retornaram no caminho, enquanto o jovem tampava as feridas com unguentos, socorria aos que estavam feridos, recolhia os que estavam mortos e os enterravam, orava por eles, uma oração rápida e reconfortante para os que ficaram. Depois de despejar sua bondade sobre eles, retornou para o palácio, onde a princesa jogou-se aos seus pés e pediu que salvasse a si mesmo.
Mas ele conhecia seu destino.
“Estou pronto. Faça.” O cavalheiro olhou para aquele ser que tanto parecia com ele fisicamente, mas eram tão diferentes que não poderiam ficar juntos em um mesmo lugar. Com a espada pesada decepou a cabeça do jovem feiticeiro. Pegou a princesa desfalecida e exigiu seu premio. Nunca mais o reino viu a antiga bondade, muitos sofriam na alma, outros eram acometidos de doenças terríveis na carne. Mas o feitiço do jovem feiticeiro ainda existia, para reconfortar aqueles que precisassem e principalmente para dar esperança de que um dia, quem sabe, esse feiticeiro da bondade retornasse.

Conto relacionado a YASMIM.




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